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Segunda hypothese:

Morte do Major === 30 contos.

Trinta contos === Paris, Yvonne, "Bois"...


Depois desta solida mathematica esta anavalhante philosophia: A morte é um preconceito. Não ha morte. Tudo é vida. Morrer é transitar de um estado para outro. Quem morre transforma-se. Continua a viver inorganicamente, transmutado em gazes e saes, ou organicamente, feito Lucilias, Necrophoras e na centena de outras vidinhas esvoaçantes. Que importa para a harmonia universal das coisas esta ou aquella fórma? Tudo é vida. A vida nasce da morte. Eu preciso, "quero" viver a minha vida. Ha obices no caminho? Afasto-os!

Fiquemos por aqui. São apavorantes estes soliloquios mentaes, quando escarnados da abençoada polpa da hypocrisia.

Hypocrisia! Que cascão precioso és tu! E como te injuriam... os hypocritas!

Fiquemos por aqui.

Não ha tempo para malbaratar com o amoralismo porque o Major Mendanha peiorou subitamente e lá agonisa. Morreu. O attestado d'obito baptisou a "causa-mortis" de phlematite aguda com nephrite elipsoidal. Podia baptisal-a de embolia estourada, nó cego na tripa, tuberculose mesenterica, estupor granuloso peristaltico, ou qualquer outro dos cem mil modos de morrer á grega. Morreu, e está dito tudo.

Morreu, e o Dr. Ignacinho apresentou em inventario uma conta de chegar: 35 contos de réis.

Os herdeiros impugnaram o pagamento. Move-se a traquitana desengonçada que chamam a Justiça, com maiuscula, inda se não