Página:Urupês (1919).pdf/98

Wikisource, a biblioteca livre
— 93 —

Rosa é falada. Laranjeira azeda não dá laranja serra d'agua. Você pense.

— Meu pae, o futuro é de Deus. Eu quero casar com a Rosinha.

— Pois case.

Deliberado com tal firmeza, Elesbão tratou de sitiar-se. Arrendou a rechan da tapera, roçou, derrubou, queimou, plantou, armou choça. Barreada que foi, pediu a menina e casaram-se.

Rosa só era rosa no nome. No corpo, simples botão inverniço desses que meiara aos frios extemporaneos de Maio. Olhos cosidos e nariz rebitado, tal qual o da mãe. Feia, mas da feiura que o tempo ás vezes concerta. Talvez se fiasse nisso o noivo.

Elesbão, rijo no trabalho, prosperou. Aos tres annos de labuta era já sitiante de monjolo, escaroçador e cevadeira, com dois aggregados no eito.

Filhos, até esse tempo, nenhum, e isso entristecia a casa, mas resignavam-se já ao vasio da esterilidade quando, certa noite, ouviram choro de criança no terreiro. Não se conta o terror de ambos, que aquillo era na certa alma penada de criança morta pagan. Como, entretanto, a pobre alma berrasse com pulmões muito da terra, e cada vez mais, Elesbão duvidou do bruxedo e accendendo uma braçada de palha lançou-a para fóra, atravez da janella. O terreiro clareou até longe e elles viram, a pouca distancia, uma creaturinha de gatas a berrar com desespero de quem é muito deste mundo.

— E não é que é uma criança de verdade? exclamou elle saido de um assombro e entrado n'outro. E agora?

— Pois é recolhel-a, disse Rosinha, cujo instincto de mulher só via no caso um pobre