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enjeitadinho ao léo, reclamando conchego.

Recolhen-o Elesbão, depondo o chorincas no collo da esposa, que o estreitou ao seio. acalmando-o, de passo que "assentava” o marido, propondo:

— Se não apparecer a mãe. cria-se o menino. Faz tanta falta um chorinho nesta casa..

No dia seguinte bateram as vizinhanças em indagações. sem nada colher explicativo do estranho caso. O pae de Elesbão, consultado. ponderou:

— Não presta criar filho alheio.

Mas como o consutente armasse cara de vacillação. remendou philosophicamente:

— Tambem não é caridade enjeitar um enjeitado — e ficou-se nisso.

Rosa conservou o pequeno, e deu com elle criado á força de leite de cabra e caldinhos.

O menino, porém, á medida que medrava, punha a nu' a má indole congenial. Não promettia boa cousa, não.

— Eu bem avisei. recordou o velho, como Elesbão se queixasse um dia da ruim casta do recolhido.

— Meu pae disse tambem que não era caridade enjeitar um enjeitado...

— E' verdade, é verdade... conformou o philosopho sertanejo, calando-se.


Manoel Achado era o nome do rapazinho. Como tivesse olhos gateados, e cabellos louros de milho, denunciativos de origem estrangeira, appuzeram-lhe os vizinhos a alcunha de Ruço. Ganhou fama de madraço e o era refinado, inimigo de enxada e foice, só attento a negociatas, barganhas, espertezas. Amado pela Rosa como filho, livrava-o ella da sanha do marido escondendo suas malandragens, que Elesbão ameaçava sempre endireital-o a