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Vulda (grafia de 2008)

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Os veludos e aromas noturnos do teu próprio nome, Vulda, têm o estranho encanto dessa indiana majestade bramânica e ao mesmo tempo uma volúpia morna de luar de Verão, derramado lânguido, lento, molemente, pelas longas e caladas praias claras...

Desperta-me o desejo do longe, do ignoto, do remoto, do ermo, do indefinido, na nonchalance, na displicência e preguiça aristocrática de um príncipe êxul, que erra e sonha, contemplativo e solitário, nas arcarias góticas dos nobres pórticos onde viera vê-lo, outrora, a Amada peregrina.

Sempre que o pronuncio, sempre que ele me aflora aos lábios, Vulda, experimento a sensação esquisita do sabor de um fruto delicioso, de maravilhosa tonalidade, sazonado num clima d'ouro e d'azul, por sóis germinais e terras virgens.

Sempre que o pronuncio, como que sinto o lábio sangrar, sangrar, pelo gozo vivo, intenso, de o pronunciar, como se a minha boca mordesse com avidez, com gula, a polpa deslumbrante de áurea carne viçosa, pubescente, fina.

Fico num êxtase de o murmurar baixo, mansamente, e o ficar gozando, gozando, quase palatalmente, no requinte voluptuoso de todos os sentidos apurados.

Evapora-se dele o eflúvio emoliente, langue, da penugem sedosa das gatas, a coleante e hipnótica nervosidade das serpentes, tentando, fascinando, tentando, magneticamente fascinando pelo brilho agudo, aterrorizante e elétrico, dos sinistros olhos letíficos...

Como que escorre do teu nome um óleo doce que tudo fluidifica, dilui...

E faz pensar num vasto mar desolado, deserto, em regiões longínquas, onde, d'alto, d'asa espalmada e ufana, pássaros tardos voam...

Nome excêntrico, lembrando o tropicalismo de uma vegetação exuberada, exultante de seivas, que dir-se-ia profundamente vibrada de sensação psíquica, vivendo a nevrose estética de sentimentos delicados.

Ele evoca-me o colorido extravagante, exótico, de uma Flor selvagem e rara destas prodigiosas florestas da ampla e verdejante América — Flor aberta através as vertigens e as pompas de folhagens seculares e através as plantas gigantescas e esdrúxulas, de uma complexidade original de germens, de fibras, de infinitas raízes, de cheiros acres, mornos e intensos, de nuanças e formas múltiplas, como de desejos e aspirações vivas.

Teu nome sugestivo, conceptivo, constela-me a Imaginação de bizarras e preciosas fantasias.

E só de o lembrar, só de o recordar e acender nos lábios, uma grande Saudade fere-me pungitivamente a alma, que agitada estremece, e tu, então, surges, Vulda, surges do meio de um clarão esmaecido — não sei se viva, não sei se morta!...

Não sei se viva, com a boca alvorada num beijo em febre, os olhos crepitando na chama de uma luxuriosa ansiedade, e vagos, vagos na perdida dolência infinita das cismas e melancolias.

Não sei se morta, álgida, mumificada, os impolutos braços e seios florescentes outrora, agora lívidos, rígidos, desvirginados pela peçonha lesmenta, larvosa, da Morte...

E há também o langor d'onda quebrada, adormentada, Vulda, no teu nome nostálgico e evocativo de extasiantes ocasos — nome harmonioso, ritmai, de voluptuosa graça d'ave, voando, Vulda; nome sonâmbulo de mistério, Vulda; nome impressionante, velado, solitário e dolente, de monja, Vulda; nome de Visão alanceada, martirizada, em cilícios e sonhos circulando, volteando, Vulda; nome, enfim, de trágica, de bárbara e bela, sanguinolenta Rainha de aventuras e apaixonada, apunhalando, em gôndolas, sobre golfos, nos alucinamentos do ciúme, pelas maravilhosas noites prateadamente estreladas do Adriático, num delírio romântico, os patéticos Manfredos espiritualizados e pálidos...