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A VIOLETA ORGULHOSA

é branca e única no canteiro, faz o maior pouco caso em todas nós. torce o nariz se a olhamos e não dá a honra de responder as nossas perguntas."

Emília, contentissima por ter uma violeta branca em seu violetal roxo, procurou-a e descobriu-a logo. Era de fato uma linda violeta branca. das mais folhadas. repolhuda mesmo. Estava ali em seu cabinho, toda estufada como um peito de pomba, ou pipoca das gordas. E fazia uma tal cara de pouco caso nas outras, que Emília não pôde deixar de rir-se.

— Incrível que até entre as flores haja estes sentimentos baixos tão comuns entre as criaturas humanas! — filosofou a ex-boneca. E como falava com as violetas como se fossem gente, perguntou:

— Escute cá, violetinha. Não estou entendendo o seu orgulho. Todas as violetas daqui são irmãs. Nascem da mesma espécie de planta, que o Visconde diz ser da família das Violáceas. Todas têm a mesma forma de pétala, o mesmo cabinho e o mesmo perfume. Será que você é mais perfumada que as outras ou tem o cabinho mais comprido? — e cheirou-a e examinou-a para certificar-se.

— Não! Apesar de branca, você cheira tanto como qualquer violeta roxa. E o cabinho é o mesmo. Por que, então, essa proa toda, esse orgulho, essa empáfia, esse ar de rainha quando as outras espicham para você olhares compridos e timidos?

A violeta branca arrufou-se como um peru que faz puf! e disse:

— Não tenho culpa de ter nascido diferente de minhas irmãs. Sou mais! E se a natureza me fez mais que as outras tenho o direito de fazer como fazem lá entre os homens os que são mais que os outros: os reis, que têm mais poder; os ricos, que têm mais dinheiro; os bem conformados, que têm mais beleza: os sábios. que têm mais sabedoria etc. Pertenço à aristocracia dos que são mais... — concluiu aquela pipoca vegetal, arrufando-se toda, puf!...

A insolência da violeta branca fez que Emília engasgasse e ficasse sem ter o que dizer. Não encontrou argumentos. Li-