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A LAMPREIA
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uma bomba dentro de um bolo. "Ela come o bolo e estoura." O Visconde optou pela tarrafa do tio Barnabé. Atraiam-na à beiradinha do rio e zás! tarrafa em cima! Mas Pedrinho decidiu-se pelo anzol. A dificuldade estava em descobrir onde moravam o Principe e a lampreia. O Reino das Águas Claras era no mar e o mar é tão grande...

A melhor idéia foi a de Emília.

— O Doutor Caramujo vai voltar com as pílulas que encomendei. Vou mandar por ele um presente ao príncipe: outra rosquinha, E você manda um presente à lampreia: um anzol!...

Discute, que discute, ficou assentado o seguinte. O Doutor Caramujo levaria à lampreia um bombom com o anzol dentro, preso a uma linha bem comprida. A lampreia comia o bombom, fisgava-se no anzol e pronto! Quando Pedrinho ali na beira do ribeirão sentisse movimento na linha, era só puxá-la.

E assim foi. O Doutor reapareceu no dia seguinte, de porunguinho à tiracolo com as prometidas pílulas, e voltou com os dois presentes. Chegando lá ao Reino das Águas Claras, entregou a rosquinha ao Príncipe, o qual, radiante, a colocou na cabeça, como coroa; e o bombom com anzol dentro ele o colocou perto da lampreia que, naquele momento, sentada no trono, sossegadamente sugava o sangue dum peixe. Depois, vendo o bombom, Sua Majestade o comeu como sobremesa e pronto! fisgou-se. Pedrinho, lá na beira do ribeirão com a ponta da linha em punho, sentiu o "fisgo" e toca a puxar.

Não foi fácil. A lampreia oferecia grande resistência, de modo que por várias vezes o pescador teve de perder o trabalho, devolvendo muitos e muitos metros de linha já recolhida. Mas Narizinho e Emilia vieram ajudá-lo — e os três juntos podiam mais que a lampreia.

Puxa-que-puxa, puxa lampreia! A cobra d'água, afinal, arquejante de cansaço, mostrou-se à tona. Completamente frouxa!

Mais um pouco de puxa-que-puxa e Pedrinho pôde agarrá-la pelo pescoço e tirá-la do rio.

— Sua bígama! — exclamou Emília acocorada ali diante dela na grama da margem. — Pensa então que é só ir casando com