A Mulher na agricultura, nas industrias regionaes e na Administração Municipal/Sericicultura

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Sericicultura
 

 

Eis uma das industrias pecuarias a que mais interesse e carinho temos dado em a nossa já não curta vida de propagandista.

Ela é, por sua natureza, o mealheiro da mulher, principalmente dessa pobre e humilde mulher do povo, que é a chave da familia rural.

Laboriosa, previdente, sofredora, dedicada até ao sacrificio de si propria, tudo faz, tudo compreende, multiplicando o tempo e as fôrças, se do seu trabalho resultar uma esperança de beneficio para os filhos e para o marido, que é tambem um pouco o seu filho mais velho.

A sericicultura é em todo o mundo, e tem sido em todos os tempos de que a historia resa, uma industria caseira. É, pois, sem contestação um trabalho que ás mulheres e ás crianças exclusivamente compete, na fase da criação do sirgo.

Entre nós nada falta para levantar esta industria, que é fartura, senão a riqueza de muitas regiões no estrangeiro.

Temos por nós a tradição anterior aos arabes e o desenvolvimento dado por estes á criação do bicho de seda e á industria de riquissimos tecidos com o seu produto fabricados. Temos a persistencia dessa cultura, embora caída na mediocridade, a que o ingente esforço do Marquês de Pombal a tentou arrancar, principalmente em algumas regiões do norte, onde as mulheres piedosamente, quasi num ritual religioso, a mantiveram até á doença que a teria morto para sempre, sem a intervenção inteligente dos agronomos.

A criação da Estação Agricola de Mirandela e o trabalho de propaganda do seu ilustre director sr. Menezes Pimentel foi, por assim dizer, o dique oposto ao desastre completo, tão completo que o pobre lavrador inculto e avaro da terra começava a derrubar as lindas amoreiras, que julgava já umas inuteis parasitas.

Aos municipios cabe um trabalho importante no desenvolvimento desta industria, que, por ser quasi absolutamente domestica, ainda mais deve merecer a atenção dos senhores vereadores, que são os representantes legitimos e imediatos do povo.

A criação das amoreiras nos viveiros municipais ou a sua requisição ao Estado e plantação nos lugares publicos, com a propaganda nas escolas distritais agricolas e o trabalho das missões aos pequenos povoados rurais, interessando os professores e os padres pensionistas e dirigindo-se principalmente ao elemento feminino, são coisas que os municipios podem com facilidade realizar.