As Doutoras/II/XI

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Personagens: OS MESMOS e MARIA PRAXEDES

MARIA (Entrando com uma xícara de caldo.) — Toma este caldo, minha filha.

DR. PEREIRA — Então a senhora quer positivamente a luta?

LUÍSA — Estou preparada, não me arreceio dela.

MARIA — Meus filhos, pelo amor de Deus, por tudo quanto pode haver de mais sagrado neste mundo...

DR. PEREIRA (A Maria.) — Ah! minha senhora, estou cheio até aqui. (Indica a garganta.) Acha que posso, que devo continuar nesta posição humilhante?

MARIA — Toma o caldo, minha filha.

LUÍSA — Não quero, minha mãe. (Maria põe a xícara em cima da mesa.)

DR. PEREIRA — Perdi o meu nome como um galé. Deixei de ser o Doutor Pereira para ser o marido da Doutora Luísa Praxedes.

LUÍSA — Logo que nos casamos, passei a assinar-me Doutora Luísa Pereira. Tomei, por deferência, o seu nome de família do qual aliás, seja dito de passagem, não precisava. Com o seu nome tenho-me anunciado, com este tenho receitado. Se o público continua a conhecer-me pelo apelido antigo, é porque ainda estão bem vivos na sua memória os sucessos que alcancei na Academia e vai acompanhando paripassu a marcha progressiva da minha carreira científica! Tenho eu porventura culpa disso?

DR. PEREIRA — Os sucessos da Academia!... A marcha progressiva da sua carreira científica! A sua pomada é que a senhora deve dizer!

LUÍSA — Pomadas são os agradecimentos de doentes, feitos nos jornais e à custa do médico que os tratou. São as estatísticas publi­cadas mensalmente nas folhas públicas com exagero escandaloso de cifra e mencionando pomposos nomes, para embair o público, as mais singulares operações.

DR. PEREIRA — Não me provoque, senhora, peço-lhe pelo amor de Deus que não me provoque...

MARIA (Entre os dois.) — Acalmem-se, meus filhos.