Dicionário de Cultura Básica/Euclides

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EUCLIDES da Cunha (Guerra de Canudos, Antônio Conselheiro: Os Sertões)

Estamos condenados à civilização.
Ou progredimos ou desaparecemos.

Euclides da Cunha (1866–1909), pela sua obra Os sertões, revelou aos intelectuais da época e aos futuros escritores regionalistas a miséria das povoações nordestinas, especialmente do Estado da Bahia. Centrado sobre a revolta de Canudos, o romance histórico do enviado especial do jornal O Estado de S.Paulo descreve o isolamento material e espiritual em que vivia o povo da serra nordestina, que buscava no fanatismo religioso uma válvula de escape para a miséria econômica e cultural. Com o rigor científico do engenheiro e com a preocupação com a verdade, própria do historiador, Euclides analisa ambientes, personagens e fatos, tentando descobrir as causas de comportamentos humanos típicos. O vasto material geográfico e histórico é transformado em obra de arte pela grande seriedade com que o autor tenta desvendar o mistério do homem e da terra brasileira. Os sertões é, portanto, um verdadeiro "romance-documento", tão ao gosto da escola realista-naturalista. Roberto Pompeu de Toledo, ensaísta da revista Veja, tece um interessante paralelo entre a Guerra de Canudos, travada no interior da Bahia, entre 1896 e 1897, e a rebelião dos presos de Benfica, favela do Rio de Janeiro, na semana entre maio e junho de 2004. Depois de mais de 100 anos, as coincidências entre os dois tristes episódios são espantosas. Em Canudos, de onde a palavra "favela" foi transplantada para o Rio de Janeiro, os jagunços devotados a Antônio Conselheiro eram assassinos tomados de um fervor religioso; na favela carioca de Benfica, os traficantes de droga do Comando Vermelho invadiram o reduto dos rivais do Terceiro Comando e cometeram horrores, mutilando corpos após a matança, enquanto as mulheres dos facínoras entoavam hinos evangélicos. Como salienta o citado crítico, a história do Brasil apresenta "constantes perturbadoras!" O romance épico euclidiano se tornou um mito na cultura brasileira, sendo adaptado para cinema, televisão e teatro. Recentemente, o Diretor paulistano Zé Celso Martinez fez de Os Sertões uma verdadeira epopéia teatral, dividida em várias partes, com 13 horas de duração e com apresentações também no exterior.