Memorial de Aires/1889/XXVIII

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Explico o texto de ontem. Não foi o medo que me levou a admirar o espírito de D. Cesária, os olhos, as mãos, e implicitamente o resto da pessoa. Já confessei alguns dos seus merecimentos. A verdade, porém, é que o gosto de dizer mal não se perde com elogios recebidos, e aquela dama, por mais que eu lhe ache os dentes bonitos, não deixará de mos meter pelas costas, se for oportuno. Não; não a elogiei para desarmá-la, mas para divertir-me, e o resto da noite não passei mal. Estava em casa dela, onde a irmã escurecia tudo com a sua viuvez recente. D. Cesária disse muitas coisas de fel e de mel, trocando-as e completando-as com tal arte que alguma vez uma coisa parecia outra, e ambas pareciam as duas unidas.