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O Lucas da Feira

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A deus, terra do limão,
Terra onde fui nascido;
Vou preso para a Bahia,
Levo saudades comigo.
Eu vou preso pra Bahia,
Eu vou preso, não vou só,
Só levo um pesar comigo:
É da filha do major.
Eu vou preso pra Bahia.
Levo guarda e sentinelas,
Para saber quanto custa
Honra de moças donzelas.
Estes sócios meus amigos
De mim não têm que dizer;
Que por eu me ver perdido
Não boto outra a perder.
Estes sócios meus amigos
A mim fizeram traição;
Ganharam o seu dinheiro,
Me entregaram à prisão.
Meus amigos me diziam
Que deixasse de função,
Que o Casumbá por dinheiro
Fazia as vezes do cão.
Vindo eu de lá da festa
De Sam Gonçalo dos Campos,
Com o susto do Casumbá
Caiu-me a espada da mão.
Já me quebraram o braço,
Já me vou a enforcar;
Como sei que a morte é certa
Vou morrendo devagar.
Quando na Bahia entrei
Vi muita cara faceira;
Brancos e pretos gritando:
— Lá vem O Lucas da Feira!
Quando eu no Rio entrei
Caiu-me a cara no chão;
A rainha veio dizendo:
— Lá vem a cara do cão.