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NOTAS.
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Nota 2, pagina 231.
Quando alguns d’entre vós té mesmo, oh crime!
A comer carne humana os aconselham!

Para que não cream ser isto exageração poetica, e para que vejam mesmo que não me animei a dizer em verso o que sobre isto li em prosa, transcreverei aqui o período de uma carta do respeitavel padre Manoel da Nobrega, dirigida ao governador Thomé de Sousa, em data de 25 de Julho de 1559. Diz a carta: « Em toda a costa se tem geralmente por grandes e pequenos que é grande serviço de Deos Nosso Senhor fazer aos gentios que se comam, e se travem uns com os outros, e nisto tem mais esperança que em Deos vivo; e nisso dizem consistir o bem e segurança da terra, e isto approvam capitães e prelados, ecclesiasticos e seculares, e assim o poem por obra todas as vezes que se offerecem, e daqui vem que nas guerras passadas que se teve com o gentio sempre dão carne humana a comer não sómente a outros Indios, mas a seus proprios escravos. Louvam e approvam ao gentio o comerem-se uns aos outros, e já se acham christãos a mastigar carne humana para dar com isso bom exemplo ao gentio. »

Essa carta bastante longa e interessante acha-se impressa no tomo 6.º dos Annaes do Rio de Janeiro por Balthazar da Silva Lisboa, da pagina 63 a 101.