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A esperanca
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mava o doutor), era filho unico de uma ilustre familia, e possuia uma boa fortuna. Sua mãe, parenta do marquez de Santa Eulalia, havia já pedido para elle a mão de Jozefina. O nobre marquez annuiu á supplica, não só porque conhecia as bellas qualidades do mancebo, mas tambem porque era sabedor da inclinação que os jovens primos sentiam um pelo outro.

O casamento estava para muito breve.

Eugenia chegou ao pé da filha do marquez; Augusto cedeu-lhe o lugar.

— O' Josefininha, manda tocar outra contradança.

— Pois sim, eu o mando dizer a Paulino.

Mendonça conversava perto com uma senhora, a prima chamou-o.

— O primo faz-me o favor de chamar meu mano?

— Augusto inclinou-se, e dirigiu-se para o sitio aonde conversavam Paulino e Clotilde. O mancebo foi aonde sua irmã, e Mendonça tomou o seu logar.

— Como acha o baile, senhor Augusto, perguntou Clotilde.

Animadissimo, minha senhora; ha muito tempo que não vi tanta beldade junta!

— Que lhe parecem as filhas do visconde e do barão?

— Formozas, mas pouco delicadas: a baroneza é insoffrivel falladora! Tenho tido pena da prima Jozefina, que tem sido martyr esta noite.

Paulino chegou ao pé das dois jovens, e procurou a Mendonça se já tinha pár para a contradança que a musica já annunciava.

— Já respondeu Augusto, terei a honra de dançar com tua irmã.

— Esse é outro caso, acrescentou Paulino suppuz que me tinhas antecipado, e que havias convidado a senhora Clotilde, que não estando compromettida, terá a bondade de dançar commigo?

— Sim senhor, respondeu a menina corando.

— A musica fez pôr tudo em movimento durante a contradança, as filhas do visconde, e a do barão, trocavam entre si olhares maliciosos, quando Clotilde dançava.

— Vamos ver estes queridos louquinhos, dizia o marquez levantando-se da meza do jogo e dirigindo-se para o salão do baile. — Que lhe parecem estas crianças, baroneza?

— Com mau gosto, porque appetece pouco dançar com um calor tão grande.

— E n'esta sala está insupportavel, acrescentou o marquez, no fim da contradança vou propor um passeio ao jardim.

— Boa ideia, marquez, por que a noite está lindissima.

— Meus cavalheiros, deiem os braços aos seus pares, e sigam o meu exemplo. O marquez seguiu a acção ás palavras, offerecendo o braço á baroneza, e descendo com ella para o jardim.

Todos acceitaram com alegria esta ordem. O jardim estava encantador. Muitas luzes de variadas cores, suspensas das arvores o alumiavam.

Mendonça e Josefina conversavam alegremente: atraz d'elles iam Paulino e Clotilde, ambos calados. A menina contemplava o firmamento recamado de estrellas, aonde a lua brilhava com o seu prateado clarão.

— Que bellisima noite, disse o mancebo, seguindo o pensamento da joven.

— De certo, respondeu ella; é uma d'essas noites que Deus nos manda para sentirmos a saudade. Eu n'estas noites assim sinto no coração um prazer melancolico.

— Pois eu encaro uma bella noite d'outra maneira, minha senhora, respondeu o mancebo. O firmamento antolha-se-me um immenso livro aonde Deus escreveu os nossos destinos com brilhantes letras.

— Se nos fosse dado o poder ler n'esse livro!

— Pode sim minha senhora: eu tenho lido muitas vezes o meu.

— E tem ficado satisfeito?

— O mais possivel, minha senhora, porque a minha estrella promette-me muita felicidade.

— Como deve viver satisfeito com essa certeza! Se eu podesse, ou sobesse tambem consultar a minha estrella.

(Continua).