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A esperança
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A mulher ― sua educação

Mulher, não queiras perder a divina essencia de tua alma.

Na tua duplice e espinhosa missão de esposa e mãe, que de martyrios sublimes, que de heroicos soffrimentos se encerram, mas quantas doçuras, quantas alegrias a compensal-os?!...

No extremo da viagem, quando a doença chega encostada ao bordão carcomido da velhice, como será dôce vêr rodeado o leito, de rostos compadecidos e amigos?!

As lagrimas de pesar, que em tantos olhos despontam, sendo promptamente afogadas n'um sorriso de lisongeira esperança, como chegam ao coração frescas e suaves, qual orvalho que mitiga a calma nos ardores caniculares do estio!!!

Se a morte nos arrastar para o tumulo, quantos braços se erguerão, tentando resgatar-nos, e como deve ser sublime essa lucta!!

Mulher que passas na terra, rodeada de loucos triumphos, que desdenhosa calcas aos pés os deveres de filha, de esposa e de mãe, para correres após as vaidades de mulher, lembra-te que as flôres de tua juventude são ephemeras, que desmaiam sob os gelos da idade; que o presente não absorve o futuro, e que, futuro sem affectos, velhice sem familia, são como immenso deserto, sem tenda de repouso para o viajante, lasso de fadiga!

Por um punhado de flôres passageiras, que ora colhes, para logo se converterem em espinhos, não desdenhes os dôces e preciosos fructos que o porvir te póde offertar.

Olha em frente de ti e diz se é bello vêr um vacuo infinito, e os horisontes ermos de luz, como erma tua alma está d'affectos verdadeiros?!

Não te assusta a solidão, que vês lá ao longe nos confins da vida?

De que te vale ser mãe se tens filhos que não te reconhecem?! As crianças que mandaste educar, jámais te comprehenderão, porque não soubeste lançar-lhes na alma o reflexo da tua, e no espirito a centelha do teu proprio intendimento.

Temeste os cuidados e fadigas que sua infancia carecia, e elles agora recuam com horror da tua velhice!

Ergue-te, mulher, rehabilita-te perante os homens, que Deus talhou para ti um logar muito distincto no mundo: não o despreses tu pelas falsas apreciações da sociedade.

O homem que te adula em teus caprichos, não é o homem que te ama; é o homem que te despresa, e cava a teus pés um abysmo, que cobre de flôres, para resvalares sem conheceres a queda.

Póde ser que alguem, apreciando mal este meu dizer, julgue que combato toda a instrucção na mulher, que possa tornal-a agradavel na sociedade; ao contrario, eu reclamo-a e com todas as forças da minha alma; mas quero que essa instrucção seja solida e não superficial.

Não quero a arte que enfeitiça com seus attrativos, só por querer prender e enfeitiçar; quero a natureza ajudada pelo estudo, cultivada e desenvolvida com vantagem, sem perder nada de sua graça natural.

Não quero que a mulher seja exclusivamente educada para o viver domestico; perderia com isso a sociedade uma grande parte de seus encantos; mas quero que se attenda primeiro áquelle do que a esta, se todavia os dois principios se podem conciliar sem prejuiso do primeiro.

Ampliem quanto ser possa a esphera de conhecimentos para a mulher; a mãe instruida póde e sabe educar seus filhos, e a ignorante não o poderia fazer.

Com isto não quero provar que a mulher fosse por Deus destinada só e exclusivamente para ama e mentora das crianças; mas sim que, sendo essa a sua principal missão, a ella é que primeiro cumpre attender.

Procure reunir o util ao agradavel: sob

Primeiro anno — 1865.
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