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A esperança

 

Bem haja minha amiga que engrandece assim o seu sexo servindo-lhe d'incentivo para imittal-a. Anime-nos minha amiga, diga-nos que escrevamos, pois não falta quem nos censure e nos mande concertar as meias!... Será receio que o nosso sexo venha um dia a offuscar a sua gloria? Se assim é, não devemos descorsôar por que nos dá isso a certesa de termos as mesmas faculdades e de podermos raciocinar como elles, deixar expandir o noss pensamento e compôr tambem um romance, tirar sons da lyra e quem sabe?.. Compôr até um poema! Mas não; nós não devemos fallar em semilhantes cousas que nos não e permittido! O sol nasce só para elles; as lagrimas que a aurora derrama sobre as flôrinhas e a relva são elles só que as querem ver e espargir, ergendo-se a maior parte das vezes quando o astro do dia vai já em meio do seu giro! e nós que nos levantamos ao raiar d'aurora, não nos é concedido contemplar esse bello quadro e descrevel-o inspiradas pela mão occulta do Creador que se revela com tanta magestade em meio da naturesa!

O parnazo é pouco para os nossos poetas, as muzas são-lhes todas precisas; não nos cedem a nós, nem sequer a mais debilitada!

Que sejam mais indulgentes comnosco, que nos deixem lêr e escrever, que nos sobra ainda tempo para fiar.

Não ha ninguem que não tenha as suas horas d'ocio e essas podemos empregal-as como nos approuver. Que lucram elles com a estupidez da mulher? Não lhes será mais agradavel conversar com ella sendo instruida? Não educará melhor os seus filhos fazendo com que elles se desenvolvam mais depressa, corrigindo-os, já na leitura, já na conversação e ensinando-lhes as lições antes d'irem para as aulas?

Longe de nós a ideia de querermos competir com os homens litteratos; não são essas as nossas aspirações que não temos estudos nem talento para isso; nós somos as que lêmos com prazer os seus escriptos, somos as suas admiradoras e humildes discipulas, o que nós não podemos, nem queremos aprender, é o seu orgulho!

De v. exc.a
amiga muito affectuosa,
Maria Adelaide Fernandes Prata.


 

 
A restauração

Eu não devia responder sem saber a quem. Todavia sei perfeitamente que os outros não podem adivinhar a idéa, que tenho, quando escrevo e por isso voi illucidal-os sobre a expressão, que tão escura acharam. Dir-lhe-hei, que n'esta expressão ― um atomo de sombra ― ha uma comparação, ainda que arrojada, admissivel segundo penso. Chama-se sombra, em physica, a porção d'espaço onde um corpo qualquer impede, que a luz chegue. Como a campa de minha irmã é muito pequena, cobre-a tão pequena porção de sombra, que se lhe dá uma arvore secular, que esta sombra se poderá comparar a um atomo. Um atomo, como sabem, dizem os physicos ser uma porção de materia extremamente pequena. A hyperbole está incluida na comparação. Para que são as figuras, senão para usarmos d'ellas? Comtudo sei que, physicamente, realmente, aquella pequena porção de sombra está longe de ser um atomo, reunião de partes tão pequenas, como disse, que nunca niguem deslocando um corpo em fragmentos, pôde apartar os atomos constituintes. Se me tiverem a inda a fazer alguma admoestação, agradeço. Até morrer aprender, diz o adagio.

 

Aos Snrs. Assignantes

A redacção d'este jormal pede aos seus dignissimos assignantes da provincia o obsequio de mandarem satisfazer o importe das suas assignaturas ao proprietario do jornal Antonio Pereira da Silva, Praça de Santa Thereza, n.o 63 — Porto, a quem deve ser dirigida toda e qualquer correspondencia.

 

Nova Typographia
de
Jose Pereira da Silva & F.o


63 — Praça de Santa Theresa — 63


Os proprietarios d'esta typographia montada pelo systema moderno, participam ao publico que se encarregam das seguintes impressões:

Romances, jornaes litterarios, programmas, bilhetes de visita ou para diversos estabelecimentos, tanto dourados como prateados, convites a baile, procurações, prospectos, estatutos, lettras, circulares, carimbos em cartas, acções, arrendamentos, e bem assim de qualquer especie de impressos, sendo o seu preço rasoavel, affiançando-se a nitidez de todo e qualquer trabalho typographico enviado a este estabelecimento.



Porto: 1865 — Typ. de J. Pereira da Silva & F.o

Praça de Santa Theresa, n.o 63.