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A esperança
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Contai-lhe vós ternas aves,
Zefiros, flores dos prados
Bosques, rios e montanhas,
Os meus dias desgraçados!

Dizei-lhe que fementido,
Jamais foi meu coração,
E que vim na soledade
Nutrir d'amor a paixão;

Que fiel ás juras minhas,
Recusei outra união
Que preferi á grandeza
Tristezas da solidão;

Mostrai-lhe depois a campa
Onde eu dormir somno eterno.
Que uma lagrima ahi verta
Que exhale um suspiro terno!

Das amigas a mais terna,
Leonor, já não existe!
Minha fiel companheira
Que à solidão me seguiste;

E'ras tu só meu amparo,
Quem minha dor mitigava,
Quem d'esta triste existencia,
Com desvelos mil cuidava:

Nos braços, teus pequenina,
Quantas vezes m'embalaste,
Na falta d'uma mãe terna,
Tu foste que me educaste.

Quando o fado a mão pesada
Sobre mim descarregou,
Dos dias teus a ventura
Para sempre envenenou!

Sósinha não me deixaste
Pelo mundo divagar
E longe do lar paterno
Me vieste acompanhar.

Tão velozes como os ventos,
Dous ginetes cavalgamos,
Por fiel pagem guiadas,
Muitos dias caminhamos.

Sempre boa, generosa,
Por mim tudo abandonaste
Teu ouro, ricas alfaias,
Commigo aqui dissipaste.

Isolada, sem conforto,
Minha dor não vencerei
E comtigo ó doce amiga
Em breve me juntareil..

Não leves azas dos ventos,[errata 1]
Ao meu bem por que não vão
Os derradeiros suspiros
Que partem do coração!..

Sabino! por que não vens
Mitigar a minha dor,
Para que morra ditosa
Nos braços do meu amor!

Não mais o bardo espera e após instantes
A amante sua estreita ao coração;
Sem dar fé ao que vê, julga que sonha,
Ou crê ser um delirio da paixão.

Em silencio se olharam por momentos,
Nos olhos tendo d'alma as expressões
Que phrazes são inuteis quando amor
Em contacto colloca os corações!

Mas em breve do Bardo essa ventura
Em pranto se mudou e agonia,
D'Olinda a pallidez, signaes de morte
No rosto seu exhausto elle só via!

  1. Correcção: Não leves azas dos ventos, deve ler-se Nas leves azas dos ventos: detalhes