Página:A escrava Isaura (1875).djvu/112

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— Cala-te, escrava insolente! — bradou cheio de colera. — Que eu supporte sem irritar-me os teos desdens e repulsas, ainda vá; mas reprehensões!... com quem pensas tu, que fallas?...

— Perdão! senhor!... exclamou Isaura atterrada e arrependida das palavras que lhe tinhão escapado.

— E entretanto, se te mostrasses mais branda commigo... mas não, é muito aviltar-me diante de uma escrava; que necessidade tenho eu de pedir aquillo, que de direito me pertence? Lembra-te, escrava ingrata e rebelde, que em corpo e alma me pertences, a mim só e a mais ninguem. És propriedade minha; um vaso, que tenho entre as minhas mãos, e que posso usar delle ou despedaçal-o a meo sabor.

— Pode despedaçal-o, meo senhor; bem o sei; mas por piedade não queira usar delle para fins impuros e vergonhosos. A escrava tambem tem coração, e não é dado ao senhor querer governar os seos affectos.

— Affectos!... quem falla aqui em affectos?! Podes acaso dispor delles?...

— Não por certo, meo senhor; o coração é livre; ninguem póde escravizal-o, nem o próprio dono.

— Todo o teo ser é escravo; teo coração obedecerá, e se não cedes de bom grado, tenho por mim o direito e a força... mas para que? para te