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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

chiar tardamente; os cavadores descendo para uma chã atravez das leiras de feno... Na estrada só restou, como desamparado, um homem de jaqueta ao hombro, que se arrastava penosamente, coxeando. Gonçalo trotou, com curiosidade:

— Que foi?... Vocemecê que tem?

O homem, com a perna encolhida, levantou para Gonçalo uma face arrepanhada, quasi desmaiada, que reluzia sob as camarinhas de suor:

— Nosso Senhor lhe dê muito boas tardes, meu Fidalgo! Ora o que hade ser? Desgraças d’esta vida!

E, gemendo, contou a sua historia. — Desde mezes padecia d’uma chaga n’um tornozello, que não seccára, nem com emplastos, nem com pó de murtinhos, nem com benzeduras... E agora andava arriba, na fazenda do Sr. dr. Julio, a concertar um socalco, para ajudar um compadre tambem doente com maleitas — e, zás, desaba um pedregulho, que tópa na ferida, leva a carne, lasca o osso, o deixa n’aquella lastima!... Até rasgára a fralda para ensopar o sangue e amarrar por cima o lenço.

— Mas assim não póde andar, homem! D’onde é vocemecê?

— De Corinde, meu Fidalgo. Manoel Sôlha, do logar da Finta. Até lá, sempre me hei-de arrastar.

— E então, d’essa gente toda, que ahi estava ha bocado, ninguem o poude ajudar?... Uma carriola, dous latagões...