Página:A illustre Casa de Ramires (1900).djvu/200

Wikisource, a biblioteca livre
192
A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

o homem positivamente me ferra um tiro de espingarda!

O Bento, que quasi se babava, com o jarro esquecido a pingar no tapete, pestanejou, confuso, mais attonito:

— Mas o Snr. Dr. disse que era uma foice!

Gonçalo bateu o pé, impaciente:

— Correu para mim com uma foice. Mas vinha atraz do carro... E no carro trazia uma espingarda. O Casco é caçador, anda sempre d’espingarda... Emfim estou aqui vivo, na Torre, por mercê de Deus. E tambem porque felizmente, n’estes casos, não me falta decisão!

E apressou o Bento — porque com o abalo, o esforço, positivamente lhe tremiam as pernas de cançasso e de fome... Além da sêde!

— Sobretudo sêde! Esse vinho que venha bem fresco... Do Verde e do Alvaralhão, para misturar.

O Bento, com um tremulo suspiro da emoção atravessada, enchera a bacia, estendia as toalhas. Depois, gravemente:

— Pois, Snr. Dr., temos esse andaço nos sitios! Foi o mesmo que succedeu ao Snr. Sanches Lucena, na Feitosa...

— Como, ao Snr. Sanches Lucena?

O Bento desenrolou então uma tremenda historia trazida á Torre, durante a estada do Snr. Doutor em