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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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cedeu, levada logo nos largos passos deslisados que o Cavalleiro lançou sobre o tapete. Barrôlo e João Gouveia correram a afastar as poltronas, clareando um espaço, onde a valsa se desenrolou com o suave sulco branco do vestido de Gracinha. Pequenina e leve, toda ella se perdia, como se fundia, na força mascula do Cavalleiro, que a arrebatava em giros lentos, com a face pendida, respirando os seus cabellos magnificos.

Da borda do canapé, com os finos olhos a fusilar, D. Maria Mendonça pasmava:

— Mas que bem que valsa, que bem que valsa o Snr. Governador Civil!...

Ao lado Gonçalo torcia nervosamente o bigode, na surpreza d’aquella familiaridade, assim renovada pelo Cavalleiro com tão serena confiança, por Gracinha com tanto abandono... Elles torneavam, enlaçados. Dos labios do Cavalleiro escorregava um sorriso, um murmurio. Gracinha arfava, os seus sapatos de verniz reluziam sob a saia que se enrolava nas calças do Cavalleiro. E Barrôlo, em extasi, quando elles o roçavam, atirava palmas carinhosas, bradava:

— Bravo! Bravo! Lindamente!... Bravissimo!