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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

com a sua nudez, silencio e frialdade de jazigo, e logo no pavimento terreo os negros alçapões chapeados de ferro que levavam ás masmorras. Mas agora as luzes nas frestas aqueciam, reviviam aquella derradeira ossada, Honra de Ordonho Mendes. E de entre as suas ameias, mais alto que da varanda, lhe parecia interessante respirar aquella rumorosa sympathia esparsa, que em torno, pelas freguezias rolava, subindo para elle, atravez da noite, como um incenso. Enfiou um paletot, desceu á cosinha. O Bento, o Joaquim da horta, divertidos, agarraram grandes lanternas. E com elles atravessou o pomar, penetrou pela atarracada poterna, de funda hombreira, começou a trepar a esguia escadaria de pedra, que tanta sola de ferro polira e poira.

Já desde seculos se perdera a memoria do logar que occupava aquella torre nas complicadas fortificações da Honra e Senhorio de Santa Ireneia. Não era de certo (segundo padre Sueiro) a nobre torre albarran, nem a de Alcaçova, onde se guardava o thesouro, o cartorio, os sacos tão preciosos das especiarias do Oriente — e talvez, obscura e sem nome, apenas defendesse algum angulo de muralha, para os lados em que o Castello enfrontava com as terras semeadas e os olmedos da Ribeira. Mas, sobrevivente ás outras mais altivas, comprehendida nas construcções do Paço formoso que se erguera