Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/153

Wikisource, a biblioteca livre
153

Nisto appareceu do outro lado da capella um dos criados de Alvapenha, que veio annunciar que o almoço estava prompto.

—­Pois devéras temos um almoço?—­exclamou Henrique, sinceramente surprehendido.

—­Graças á previdencia de minha tia, previdencia de que eu zombava em casa, mas que sou obrigada a admirar agora. De facto, parece-me que estes ares do monte e frescuras da madrugada lhe devem ter aberto o appetite—­respondeu Magdalena. E logo após continuou para Henrique:—­Agora é occasião maïs accommodada de pôr em prática os recursos do seu galanteio, primo. Quer dar o braço a Christina?

Henrique, em quem a morgadinha suspeitára a intenção de lhe render a ella a fineza, que assim declinou na prima, teve de condescender, limitando-se a exprimir n’um olhar as suas queixas, olhar que Magdalena fingiu não perceber.

E conversando e rindo, dirigiram-se para o logar onde, sobre uma mesa de pedra e lousa e ao ar livre, estava disposto o almoço.

D. Victoria não era senhora, que se saisse mal de emprezas d’estas. A alvura da toalha, a excellencia da louça e o bem disposto e apurado das iguarias convidavam.

Não se concebe appetite refractario a um tal conjuncto de circumstancias. O fastio, n’este caso, seria um fastio mórbido, correspondente a lesão organica e como tal sem poesia.

Henrique e Augusto principalmente fizeram, como era natural, justiça á cozinha do Mosteiro.

Henrique, que parecia haver esquecido as suas mil e uma doenças, conversou animada e espirituosamente.

Contaram-se anécdotas; Augusto applaudiu as de Henrique; este riu com vontade das que ouviu a Augusto.

A morgadinha, por sua propria mão, preparou o chá.