Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/402

Wikisource, a biblioteca livre
128

—­Antes de maïs nada: de que me accusam?—­perguntou Augusto.

—­Pois não sabe?!—­exclamou Henrique, admirado.

—­Vagamente apenas. Sei que ha uma carta extraviada, mas a conclusão em que fiquei, mal me deixou comprehender...

Henrique contou então tudo o que se passára no Mosteiro, e terminou dizendo:

—­Já vê que eu não fiz maïs do que faria outro qualquer em meu logar. Pesava sobre todos quantos frequentavam aquella casa uma desconfiança odiosa: esclarecer o mysterio, dissipar as suspeitas, lançar aos hombros do culpado toda a responsabilidade da traição, era o natural empenho de todos. A descoberta da carta na sua pasta accusava-o. Essa descoberta foi occasionalmente feita por D. Victoria. Eu não o conhecia bastante para que o seu passado me obrigasse a recusar o testemunho das apparencias. Os motivos de despeito, que as suas mesmas palavras por aquella occasião confirmaram, explicavam muito bem certas tentações de vingança... Nada maïs natural do que suppôr...

Augusto cobriu o rosto com as mãos, murmurando:

—­Accusado!... accusado de uma infamia, e deante de...

Aquí reteve-se, como se a tempo comprehendesse a indiscreção da sua dor.

Henrique cada vez se sentia maïs modificado nas suas disposições para com Augusto; por isso, quando este cortou assim em meio a expressão do pensamento, elle, que lh’o percebeu, disse-lhe, sorrindo:

—­D’ella? Socegue. Tem junto d’esse tribunal, de que se receia tanto, advogados eloquentes.

Augusto levantou para Henrique um olhar interrogador.

—­Diz que...