Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/477

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dizer ao cunhado do administrador que o traçado da estrada era o peor que podia ser, que se gastava alli um dinheiro louco, sem utilidade para o povo.

O conselheiro olhou para Henrique, dizendo:

— Lembra-se do que eu lhe disse na noite do Natal, a respeito d’este traçado e dos pedidos do brazileiro para elle se adoptar? Admire agora o velhaco.

Henrique sorriu, encolhendo os hombros.

— Arremedos do que se faz em terras maiores — disse elle. — Não extranho.

— E tem razão — respondeu o conselheiro.

— Mas, a final — continuou o conselheiro — o homem não tinha na freguezia grande influencia. Como é que...?

— Tem-se popularisado ultimamente um pouco mais. Deu em franquear vinho por ahi a toda a gente, e depois os padres estão bem com elle e de mal com v. ex.a.

— Mas como se lhe desenfreou tão de repente esse odio contra mim? Deixámo-nos em janeiro nas melhores disposições um para com outro...

— Pelos modos que ahi se falou de uma carta do ministro ou ao ministro... — disse o Tapadas, com maneiras de quem não dera grande importancia ao objecto a que se referia.

O conselheiro mudou logo de assumpto.

— E os padres? os padres? Que heresia disse eu, que peccado grande commetti, para me terem esse odio?

— Dizem que v. ex.a é mação — respondeu um lavrador.

— O diacho da questão do cemiterio... — acudiu o Tapadas.

— Isso acalmou já.

— Não acalmou, não senhor. O povo não está contente. É certo que lhe passou a furia do principio, depois d’aquella historia com o Cancella, mas...