Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/487

Wikisource, a biblioteca livre
213

da Quinta, que a ouvira á Gertrudes, criada do Mosteiro.

— Casa com a morgadinha, já se sabe?

— Pois vêdes! não que a bolada convida! A mim logo me farejou isso, quando vi chegar esse figurão cá á terra. Mas querem vossês saber uma coisa engraçada?... Pareceu-me que o Augustito do doutor não gostou da novidade.

— Não? Então por quê?!

— Vi-o fazer-se de mil côres quando a ouviu... Pois ter-se-lhe-ha mettido na cabeça... Hein?!

— Tinha graça. Mas olha o milagre!...

— Ah! ah!... Este mundo é muito divertido!

N’isto saiu a correr da igreja um influente politico, e principiou a olhar para todos os lados, como procurando alguem.

— Que temos nós lá, ó sr. Luiz? — perguntou-lhe o Pertunhas.

— Onde diabo estão os de Pinchões? — perguntou o interpellado.

-Inda não vieram.

— Diabos os levem! Vae-se principiar a chamada, e elles não apparecem. O morgado é homem para se esquecer a catar os cães.

— Mas vamos nós principiando, e no emtanto elles virão — disse o Pertunhas, que fôra nomeado para revezador do secretario da mesa.

— Mas a primeira freguezia que vota é justamente a d’elle. O sr. Seabra está como uma bicha!

E, dizendo isto, o homem voltou para dentro.

A mesa eleitoral, instituida no meio da igreja, com grande escandalo do beaterio, que pela voz dos padres chamava áquillo artes do demonio, ia principiar a funccionar. O conselheiro, que viera mais tarde, de proposito para não formar parte da mesa, requereu, com o relogio na mão, que se abrisse a urna aos eleitores, visto ser a hora marcada no edital.

Este requerimento, simples e justo como era, suscitou discussão.