Repetiu Izabella cantarolando o que em baixo se cantava a plenos pulmões.
— «Quem poderá ter liberdade junto de V. Ex.ᵃ?!... — commentou amavelmente o Telles.
— «O quê, acha-me com cara de policia ou figados de carcereiro?... — respondeu a rir.
— «É o mais terrivel dos carcereiros porque nos algema com a etherial graça do seu espirito e nos prende para sempre só com a força d’um sorriso...
— «Por quem é, não desperdice a poesia, sr. Telles! Dizer coisas tão lindas, d’um perfume tão pronunciadamente ancien régime, em plena kermesse popular, e em prosa, confesse que é commetter um crime de lesa arte... Espero que me repetirá o mesmo em alexandrinos. — Voltando-se para o Ramalho: — sabe que estou com um desejo immenso de vêr ámanhã a romaria á luz do sol, com muita poeira e moscas, como dizem que são boas as toiradas, que para mim não passam d’um espectaculo monotono... Isto hade ser mais pittoresco, pois não, doutor?
— «Muito mais! Como não sou tambem um aficionado, acho mais caracter e movimento n’uma romaria ou n’uma feira.
— «Mas quer voltar pelas escadas? — inquiriu receoso o João.
— «Não, — assegurou, sorrindo do susto — podemos vir no seu phaeton, que por ser descoberto tem as mesmas vantagens sem os inconvenientes da travessia a pé.
— «Então amanhã tambem me abandonas? — perguntou-lhe quasi ao ouvido a Viscondessa.