— Porque m’o diz o coração.
D’esta vez o academico ponderou supersticiosamente os dictames do coração da moça, e com o silencio meditativo deu-lhe a ella a evidencia anticipada do vaticinio.
Quando voltou com a travessa da gallinha, vinha chorando a filha de João da Cruz.
— Chora com pena de mim, Marianna? — disse Simão enternecido.
— Choro, porque me parece que o não tornarei a vêr; ou, se o vir, será de modo que oxalá que eu morresse antes de o vêr.
— Não será, talvez, assim, minha amiga...
— V. s.a não me faz-uma coisa que eu lhe peço?...
— Veremos o que pede, menina.
— Não saia esta noite, nem ámanhã.
— Pede o impossivel, Marianna. Hei de sahir, porque me mataria se não sahisse.
— Então perdôe a minha ousadia. Deus o tenha de sua mão.
A rapariga foi contar ao pae as intenções do academico. Acudiu logo mestre João combatendo a ideia da sahida, com encarecer os perigos do ferimento. Depois, como não conseguisse dissuadil-o, resolveu acompanhal-o. Simão agradeceu a companhia, mas rejeitou-a com decisão. O ferrador não cedia do proposito, e estava já preparando a clavina, e arreçoando com medida dobrada a egua — para o que désse e viesse — dizia elle, quando o