Exaltára-se Simão em graças a Deus, na presença de João da Cruz, que arrumava no quarto uns moveis que comprára em segunda mão, quando este, suspendendo o trabalho, exclamou:
— Então vou-lhe dizer outra coisa, que não tinha tenção de lhe dizer, para o apanhar de súpeto.
— Que é?
— A minha Marianna veio comigo, e ficou na estalagem, porque não se podia bolir com dôres; mas ámanhã ella cá está para lhe fazer a cozinha e varrer a casa.
Simão, reconcentrando o indefinivel sentimento que esta noticia lhe causára, disse com melancolica pausa:
— É pois certo que a minha má estrella arrasta a sua desgraçada filha a todos os meus abysmos! Pobre anjo de caridade, que digna tu és do ceu!
— Que está o senhor ahi a prégar? — interrompeu o ferrador — Parece que ficou a modo de tristonho com a noticia!...
— Senhor João — tornou solemnemente o prêso — não deixe aqui a sua querida filha, Deixe-m’a vêr, traga-a comsigo uma vez a esta casa; mas não a deixe cá, porque eu não posso tolher o destino de Marianna. Como ha de ella viver no Porto, sósinha, sem conhecer ninguem, bella como ella é, e perseguida como tem de ser!?...
— Perseguida! Tó carocha! Não que ella é mesmo de se lhe dar de que a persigam!... Que vão para lá, mas que deixem as ventas em casa. Meu amigo, as mulheres