Página:Ao redator do diário.djvu/8

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Já a liberdade tinha desertado do capitólio, onde nunca mais devia entrar; e o povo romano solicitava um senhor à quem servir! Contudo, o nome de rei ora ainda ali um objeto de aversão e horror, como fora em Atenas o título do tirano.

Aclamavam-se ditadores perpétuos com poderes soberanos; decretavam-se triunfos; erigiam-se estátuas; deferiam-se honras imortais. Mas a lisonja ousada que se atrevia até o sacrilégio, não tentou reunir as três letras execradas para saciar as ambições vaidosas.

César aceitou a estátua que o povo romano colocou no capitólio à par do Júpiter, com a inscrição de semideus: e apesar do seu gênio, não se animou a receber o diadema que em público lhe ofereceu o cônsul Marco Antônio.

Esta página da história antiga é cheia de fundas tristezas e implacáveis lições; é o transe da devassidão do maior povo da terra. Na decrepitude de uma raça, imensa na virtude e imensa no vício, todos os países acham estímulos para a glória, e advertências na miséria.

Nossa felicidade é possuirmos a monarquia para socalcar as ambições afoutas; e na monarquia um príncipe reto, liberal, invulnerável aos assaltos da paixão. Não fossem estas duas guardas que Erasmo em vez da árdua tarefa teria se limitado a escrever na página atual dos anais brasileiros: Fuit libertas!

O absolutismo?... Quem não o vê? Não convive ele conosco?

Onde a minoria subjuga a maioria, aí está a tirania; seja de um, seja de muitos. Repimpado nas poltronas ministeriais, espreguiçando-se nos sofás da assembleia, pedante nas repartições públicas, risonho e sedutor na imprensa, empertigado nos fardões, mostra-se em toda a parte esse Proteu da nossa política.

Só não penetrou ainda o coração daquele à quem devera mais seduzir, e a alma de alguns cidadãos prudentes que há muito sentiram o liso declive por onde resvala o país.

Alguém apareceu que tirou de seu dever coragem para afrontar o delírio. Arrancou o monstro do parlamento, da administração,