Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/188

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de sua mãe que surgia lívido e ameaçador, brandindo na mão convulsa o punhal meio oculto pelas dobras da roupagem.

Ela via, pasma de grande terror, o vulto crescer e caminhar com passo hirto, abafado pelo tapete; Cristóvão sem aperceber-se da mudança de seu semblante murmurava as ternas falas que ela já não escutava. Mas quando o punhal, vibrado pela mão nervosa, cintilou aos reflexos da luz, rápida como o pensamento, Elvira soltou um grito convulso, e envolvendo o corpo de seu amante, furtou-o ao golpe mortal. A ponta do ferro ainda rasgou a cambraia da anágua, esfrolando a cútis cetim da mimosa espádua.

Houve grande silêncio; as três personagens desta cena formavam um belo grupo.

Cristóvão, que se erguera surpreso, estava imóvel, de cabeça baixa; em face D. Luísa, muda e sombria, com o colo distendido, parecia espreitar a presa; Elvira, de cabelos desgrenhados, lábio trêmulo, roupas espedaçadas e rubras de sangue, era sublime na ferocidade do seu amor. Debruçada toda sobre o cavalheiro, que ela defendia com o corpo, voltando o rosto sobre a espádua para fitar sua mãe, com uma das mãos estreitava o amante