Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/204

Wikisource, a biblioteca livre

menino e desengraçado sim, mas de excelente índole. A madrasta foi má para o enteado, como sempre sucede, e escorraçou a pobre criança.

O menino fugia de casa para evitar os maus tratos, e escondia-se na próxima capoeira. Aí passava o dia entretido em ver as formigas carreando a areia do buraco, em armar arapuca às rolas e sabiás, ou trepar nas árvores para dar caça aos ninhos. A princípio ainda recolhia a casa nas horas de refeição; depois só para cear e dormir. Os frutos silvestres lhe sabiam melhor do que a broa, que o pranto amargava.

Quando voltava do mato, já lusco-fusco, era raro que não trouxesse, escondidos no seio da camisa, algum ninho de ave, uma fruta, ou bonitos passarinhos que dividia entre o seu colaço e uma menina do lugar, filha do vizinho. Eram esses dois entes seus carinhos e sua maior consolação.

As vezes e bem frequentes, que a madrasta o castigava barbaramente sem arrancar-lhe um gemido dos lábios cerrados ou uma lágrima dos olhos secos, era no seio de sua camarada de infância, que a vítima desafogava o coração. Mariquinhas chorava também; pranto copioso vertia dos olhos de ambos. Então o menino arrependia-se da mágoa que causava à