Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/139

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Iluminava a fronte da bela senhora um reflexo vivo das paixões sublimes. Mas passou. Foi trêmula e receosa que ela dirigiu de novo a palavra ao advogado pensativo:

— Dizei-me pois, sr. doutor, se as leis dos homens me dão o direito de arrancar meu esposo e meu único bem aos votos que mo roubaram!... Porque senão, se justiça não há no céu que cansei de implorar, e na terra onde só tenho penado... Pois bem, eu me farei justiça por minhas mãos...

— Qual é o vosso intento, senhora?

— Meu intento... meu intento... Sei-o eu?... Reaver o que perdi... Sim; ainda que para isso seja preciso armar os maus contra os bons... profanar a casa do Senhor... Que importa!... Contanto que me restituam meu esposo... Irei de convento em convento, de portaria em portaria mendigar novas dele... Hei de encontrá-lo, e então...

— Basta, Dona Dulce! Bem vos dizia eu que vossa generosa retribuição era demasiada para o ofício do humilde letrado... Esqueci avisar-vos que fora nenhuma para o seu dever. Aqui vo-la deixo!