Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/16

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maviosa no espesso e florido rosal. Longe tinia o som argentino de uma campainha, que tangia o passo tardo das mulas de carga trilhando caminho da cidade.

Dulcita, retirada a um canto do pomar, à beira do rio, dava os últimos pontos a uma linda mantilha que destinara à função da maia. Enquanto as agulhas ligeiras passavam e repassavam cerrando as estreitas malhas do torçal, estavam já a revoar-lhe no pensamento as danças e os alegres folgares, e os lindos descantes da próxima festa. Já se via admirada e perseguida pelos rapazes que disputavam a ventura de bailar com ela a primeira cachucha. E de nenhum se agradava, senão que a todos os rejeitava.

Nisto aparecia um lindo majo, formoso como um anjo e nobre como um infanção, tão bem composto das feições gentis, e tão alindado das luzidas galas, que era um gosto vê-lo. Chegando lhe deitara os olhos, cativos já; e veio para ela, e veio bailando, e atirou-lhe o desafio. Dulcita estremecia e corava, de pejo também, porém mais de prazer. O pé mimoso e sutil já lhe titilava no chapim broslado e os dedos insofridos estalavam as castanholas.