Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/238

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livro um olhar que parecia, de tão poderoso que era, arrancar da página as palavras ali escritas e gravá-las na memória, leu duas vezes uma sobre outra o pequeno assento; feito o que fechou cuidadosamente o misterioso registro e pô-lo sob chave na arca do canto. Para assegurar-se de sua memória repetiu mentalmente o que tinha decorado e era apenas uma nota deste teor:


“Tibúrcio Estêvão, magarefe no curral do Conselho, para cujas bandas mora. Jurou aos 3 de junho de 1605; ainda não provado. Espírito simples e rudo, mas bem procedido; é mui temente a Deus, e o que lhe for ordenado para seu serviço, certo que o fará, com cegueira de entendimento, mas energia de ânimo.”


Nesse momento um leigo cubiculário, que passava pelo fundo do dormitório, ouviu tocar a campainha no cubículo do P. Molina, e acudiu com açodamento à porta.

— Chame o irmão andador que o requer o padre provincial.

Quando o leigo requerido apresentou-se, o P. Molina o tosou da cabeça aos pés, e conheceu que o pobre tonsurado era um bem-aventurado, incapaz do mínimo raciocínio.