Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/33

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sua pátria, o Cid campeador, tão celebrado nas lendas castelhanas: cantando as trovas do romanceiro, o menino sentiu borbulhar o sangue nas veias, e intumescer-lhe o seio de uma nobre emulação. Com os primeiros reais que apurou, mercando copos de água nevada, o aguadorzito comprou uma espada. Era esta de tamanho desmedido para um homem que fosse, quanto mais para um menino; e tão comida já de óxido, que o armeiro a tinha entre os ferros-velhos.

— Bem pode ser a espada de Mudarra, a velha espada ferrugenta! disse o menino consigo, e acariciou os punhos.

Nesse dia a calçada do Palácio Velasco não o viu, e as damas de Burgos notaram a falta do esperto e vivo rapazito que as divertia com seus repentes chistosos, e sabia oferecer um copo de água nevada com tão fino donaire para admirar em um menino de rua.

Vilarzito tivera mais que fazer. Escondido em um pardieiro, o futuro êmulo do Cid esgrimia e ferralhava a valer contra as velhas paredes. O entusiasmo lhe duplicava as forças; a ferrugenta espada coruscava no ar, ferindo fogo no cimento empedernido. Enfim o ardor guerreiro sucumbiu à