Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/87

Wikisource, a biblioteca livre

sua imaginação já excitada mais se exaltou. Desde esse momento seu destino estava preso àquele frade que representava para ele a maior glória do mundo.

O rapaz sentou-se na calçada fronteira; e esperando que seu herói saísse do palácio, rilhava nos dentes uma naca de pão de rala de três dias.

O religioso era o P. Gusmão da Cunha, procurador do Colégio de Lisboa. Vinha de Madrid aonde fora solicitar perante a corte sobre negócios da casa. Vilarzito avançou afouto e manifestou-lhe seus ardentes desejos de ser pregador. Tão decidida vocação não era para desprezar num século em que a Companhia de Jesus, com os olhos largos no futuro, colhia entre os povos a fina flor da mocidade para cultivá-la em suas vastas estudarias. Aspirava ela ser como o sol da inteligência naquela aurora da civilização moderna.

No seguinte dia tomaram caminho de Lisboa o frade e seu novo fâmulo, aspirante ao noviciado. Na viagem notou o rapaz que o religioso lia, mais que o breviário, um volume in-4.°, o qual trazia no rosto este título latino: De liberi arbitrii cum gratia domini concordia. Ludovico Molina. Olisipone – MDLXXVIII.