Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/97

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no rancor da sua paixão. Tão mudada me têm os pesares, que não me reconheceis!

Mas já o P. Molina havia recobrado a sua impassibilidade:

— Como pudera reconhecer-vos, quem nunca vos conheceu?

— Conheço-vos eu e vos requero, que meu marido sois!... Os olhos que as lágrimas cegam poderão enganar-se; não este coração onde as vossas falas estão vivas como na noite em que me jurastes...

— Calai-vos, mulher! Vosso marido morreu! Este que vedes, humilde servo do Senhor, não é já deste mundo!

— Mentis! Deus que vos deu ao meu amor, não podia roubar-vos à sua criatura! Se o fizesse, não seria Deus...

— Não blasfemeis!

— Não! Oh! não seria! E eu lhe disputaria o que era meu e muito meu pelo sacramento e afeto que ele mesmo abençoou.

— Senhor! exclamou o P. Molina cruzando as mãos para o altar. Perdoai a esta mísera pecadora, a quem as más paixões mundanas escureceram os lumes da razão.