com que a menina, tão tímida há dois dias, lhe falava agora, e o convidava a subir por uma escada de cordões de seda presa ao peitoril da janela. Não se fez rogar o namorado cavalheiro, e com a impavidez que lhe era própria, assaltou a escada e em dois arrancos achou-se na sala.
Raquel o esperava, e sem resistência deixou que ajoelhasse a seus pés e lhe beijasse as mãos. Convidando-o a sentar-se perto do coxim de damasco, dirigiu-lhe a palavra fria e melancólica:
— É verdade que me tendes amor, cavalheiro?...
— Duvidais ainda, formosa Raquel?
— Tanto não duvido, que aqui estais agora para mo provar.
— Se for precisa a minha vida para isso, ainda a acho pouca, senhora.
— Será preciso menos ou mais do que ela, conforme vosso pensar. Também eu vos amo, cavalheiro, e vos amei com fogo santo até este instante pelo menos!
— E por que não me amareis sempre, senhora?
— Depende de vós e da maneira por que ides responder à esperança que em vós depositei.
— Falai pois, senhora, e apressai.