que o vento arrefecera, precipitou-o para aquele aposento resguardado pela porta de arabescos. Samuel o conteve, travando-lhe do braço:
— Um instante, senhor meu. Permiti a vosso servo lembrar-vos que ainda não cumpristes vosso juramento!...
— Cumpri-lo-ei já neste instante!
— Aqui não; em lugar mais seguro. O prazer esperado, dizem que é como vinho guardado, replicou o judeu com um riso de Judas.
— Não faço cabedal de anexins, respeitável Samuel. São dez horas; mão para lá, mão para cá, vós o dissestes.
Proferindo estas palavras, D. José tirou da cinta a chave de ouro que lhe dera Raquel, e tateou para acertar com a fechadura.
— Ainda não são dez, retorquiu o judeu apontando para a clepsidra; e por isso ainda a fechadura não recebe a chave que vos deram.
De feito o relógio d’água, atrasado pelo judeu, marcava de menos um quarto; e a fechadura estava coberta por uma mola interiormente movida.
— Segui então, e aviemos, enquanto não me arrependo.