— Filha, que faremos do cadáver deste perro cristão?
— Vivo é, pai; está apenas adormecido!
— Ah! exclamou o judeu.
— Para que matar tão infame criatura? Seu maior castigo é a vida miserável e ignóbil que vai viver!
— Para nosso mal!
Raquel ergueu os ombros com indiferença.
— Tomai este corpo, pai, e alijai-o lá na lama da rua. Amanhã a gente que passar, e o vir assim espojado, cuidará que ao recolher do bródio ali caiu ébrio!
O velho judeu envergou aos ombros o corpo adormecido do fidalgo, e saiu com ele para cumprir a recomendação da filha. D. José de Aguilar foi atirado ao chão no fim da Rua da Palma. Raquel da janela acompanhou com os olhos o rabino, até que ele tornou ao camarim:
— A empresa foi bem sucedida, pai?
— À medida dos nossos desejos e esperanças.
— Então os flamengos estão livres?
— Da prisão já; mas não do perigo. Enquanto permanecerem na cidade tremo pela sua segurança.
— Quando partirão eles?