Página:As Minas de Prata (Volume V).djvu/127

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— Então é preciso que eu seja esta mesma noite vossa esposa!...

Quando a primeira onda da claridade matutina insinuou-se pela fresta da janela, os dois amantes, longe um do outro, se isolavam em suas almas, tentando debalde fugir a si mesmos para libertar-se da ideia horrível que os esmagava. A luz, penetrando de repente na escuridade do aposento como na treva de sua alma, os fez estremecer. Foi como se desnudassem suas consciências. Entreolharam-se rápida e furtivamente. Cristóvão contemplando no abatido semblante da donzela a cópia descorada da virgem que ainda na véspera amava com tão santo fervor, suspirou:

— Oh! minha para sempre perdida felicidade!

Elvira, que viu abrir-se no sorriso pungente do mancebo o abismo onde ia sepultar-se o casto e puro afeto que inspirara, também gemeu no fundo d'alma:

— Que fiz, Deus meu!...

Os rumores do dia encheram a casa, e chegando até à câmera, lembraram a Cristóvão onde estava. Ergueu-se então, e despedindo-se friamente da donzela, encaminhou-se à porta. Sair assim em pleno dia, sem a mínima precaução, era