Página:As Minas de Prata (Volume V).djvu/186

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Fechada a rótula, subiu à água-furtada; e prosseguiu com ardor na tarefa começada. Descoberto o buraco, apareceu o fundo do armário de cedro. Aplicou o jesuíta o ouvido, e pareceu-lhe que ninguém havia no gabinete; era então a hora do almoço, e o fidalgo naturalmente estava à mesa. Sem perda de tempo insinuou pela broca da madeira a serra fina e estreita, e continuou a cortar o tampo começado. Apesar da cautela de untar constantemente o instrumento de óleo com o fim de amortecer o rangido, tinha ele o ouvido atento ao menor sinal.

Dois terços do círculo estavam cortados, quando sentiu ele abrir a porta do gabinete. Ficou imóvel. Era D. Diogo, que terminada a refeição matinal, voltava aos seus papéis, nos quais trabalhava desde a madrugada. Preparado para sofrer as consequências de sua lealdade e rigidez de caráter, escrevia o fidalgo suas últimas disposições, e consolava a esposa em uma carta que lhe dirigia. Já na sua casa se haviam apercebido da presença de gente armada na rua; mas só o fidalgo compreendeu a verdadeira razão.

— Não me conhece! murmurava dentro de sua alma nobre.