Página:As Minas de Prata (Volume V).djvu/312

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Para evitar a surpresa possível, senão provável, resolveu o mancebo ocultar com o roteiro a missiva lacrada dos rabinos.

Por este encadeamento de circunstâncias, as duas provas únicas, mas irrefragáveis de seu nobre proceder, estavam não só longe, como complicadas, de modo que só ele em pessoa as podia deslindar e trazê-las à sua defesa. Revelar o lugar onde estava a missiva dos judeus, era entregar o roteiro das minas; enviar alguém ao acampamento do Antão, seria afastá-lo da Bahia pelo sertão adentro.

Entretanto o mancebo dormia tranquilo à sombra da morte que já o bafejava.

Eram cinco horas da manhã. A chave do cárcere rangeu surdamente na fechadura. O carcereiro entrou de ponta de pé, e espreitou de longe o vulto adormecido do prisioneiro; refreando a respiração, achegou-se do canto onde ele jazia deitado, e com a mão sutil, começou de apalpar as roupas, sondando as algibeiras, bem como o peito do gibão. Não achando o que procurava, insistia na busca, quando Estácio ergueu-se de chofre e o pilhou em flagrante com a mão na ratoeira.

— Mestre carcereiro, é a segunda vez que me apalpais