Página:As Reinações de Narizinho.pdf/104

Wikisource, a biblioteca livre
98
O CASAMENTO DO NARIZINHO

que nem vóvó, que é uma damnada, seria capaz de escrever uma cartinha tão cheia de grammaticas!...

Depois, voltando-se para Pedrinho, ordenou muito naturalmente:

— Responda que sim, que acceito. Diga que estou ajudando tia Nastacia a enrolar estas rosquinhas e mal acabe irei casar com elle.

Dona Benta, que ia passando, ouviu o final da phrase.

— Casar com quem, menina? indagou ella. Que historia de casamento é essa?...

— Sim, vóvó. Fui pedida em casamento e acceitei. Vou casar-me com o principe Escamado.

Tia Nastacia arregalou os olhos para dona Benta, que por sua vez tinha os olhos arregalados para a menina.

Narizinho riu-se de tanto olho arregalado e continuou:

— De que se espantam? Se toda a gente se casa, por que não posso casar-me tambem?

Sim, minha filha, respondeu dona Benta com pachorra. Todos se casam, não ha duvida. Eu me casei, sua mãe se casou. Mas todos se casam com gente da mesma igualha. E' muito diverso disso de casar com um peixe...

— Dóbre a lingua, vóvó! Escamado é principe. Se se tratasse ahi dum peixe vulgar de lagoa, vá que vóvó falasse. Mas o meu noivo é um grande principe das aguas!...

— Mas não é uma creatura da nossa especie, menina.

— E que tem isso? A Emilia, que é uma boneca, não se casou tão bem com Rabicó, que é leitão? Acho as suas idéas muito atrazadas, vóvó...

Dona Benta volveu os olhos para tia Nastacia.

— Já não entendo estes meus netos. Fazem taes coisas que o sitio está virando livro de contos da Carochinha. Nunca sei quando falam de verdade ou de mentira, Este casamento com peixe, por exemplo, está-me parecendo brincadeira, mas não me admirarei se um bello dia surgir por aqui um