Pedrinho e o doutor Caramujo surgiram.
— Finquei-lhe uma pelotada na orelha que sahiu faisca! foi dizendo o menino.
— Judiação! exclamou a menina apiedada. Mas o peor é que acertou no brinco, que lá se foi..
— Não faz mal, resolveu Pedrinho. Explica-se lá na côrte que a moda aqui na terra é um brinco só na orelha esquerda e todos acreditam.
E voltando-se para o camarão cocheiro, ordenou:
— Tóca o bonde!
O chicotinho do camarão estalou e os hippocampos partiram no galope.
O caminho por onde o coche corria era uma belleza! Florestas de esponjas, Florestas de algas. Florestas de coraes. Até por uma floresta de mastros de navios naufragados elle passou.
Os viajantes espiavam pelas janellinhas e viam deslisando no seio das aguas os vultos dos mais terriveis monstros do mar — tubarões enormes, espadartes, enguias. Até um polvo viram, ondeando os seus compridos tentaculos.
Emilia gostou muito do polvo.
— Sou capaz de fazer um! exclamou ella, fazendo todos se voltarem para ouvir a asneirinha que ia sahir.
— Pégo numa porção de cobras e amarro todas as cabeças num sacco de couro e solto no mar e vira polvo!...
— Você é mesmo uma damnada, Emilia, disse Narizinho distrahida, de olhos postos em Rabicó, muito jururú no seu canto. Mas era melhor que endireitasse o brinco do seu marido. Está cae não cae...
— Elle que coma o brinco duma vez, respondeu a boneca. Toda essa tristeza de Rabicó é vontade de comer o brinco.
Rabicó passou a lingua pelos beiços, com uma olhadela para o bodoque de edrinho — e suspirou.