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MONTEIRO LOBATO
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A preta fez o signal da cruz.

Emquanto isso os outros fidalgos da côrte foram pulando. Pulou o venerando Bernardo Eremita. Pulou a senhorita Sardinha. Pulou dona Aranha Costureira. Pulou o major Agarra-e-não-larga-mais. Cada um que pulava era um novo berro de tia Nastacia.

— E uma sardinha agora, sinhá! ia exclamando. E agora uma aranha! E agora um sapo! O mundo está perdido...

Por fim não aguentou mais: disparou para a cozinha.

Dona Benta, porem, foi-se acostumando, e dalli a pouco já não estranhava coisa nenhuma. Começou até a achar uma graça enorme em tudo aquillo.

— Você tem razão, minha filha, disse ella por fim. Esse mundo em que você e Pedrinho vivem é muito mais interessante que o nosso.

E ferrou numa prosa comprida com o doutor Caramujo a proposito da doença do pinto sura.

Emquanto isso Narizinho ia mostrando as cousas da sala ao seu amado principe. Mostrou o relogio da parede, mostrou os pratos do armario, mostrou o pote d'agua. O que mais impressionou o peixinho foi um guarda-chuva que estava a um canto.

— Para que serve isto? perguntou elle.

— Para a gente não se molhar, respondeu a menina.

— Então porque não o levaram na viagem ao fundo do mar?

Tanta graça achou a menina nessa pergunta que não resistiu á tentação de agarral-o e beijal-o na testa.

— Você é um burrinho, sabe?

Como ignorasse o que queria dizer burrinho o principe não se offendeu. Depois, notando a ausencia do visconde de Sabugosa e do marquez de Rabicó, pediu noticias delles.

— O visconde levou a bréca, respondeu a menina. Voltou da viagem ao fundo do mar tão encharcado que tive de