— E essa coisa vermelha que elle tem dentro?
— Isso se chama fogo.
— E para que serve?
— Serve para queimar o dedinho de quem põe o dedinho nelle.
E tia Nastacia dava risadas gostosas, vendo as caras de admiração que Miss Sardine fazia.
Certo momento trepou a uma prateleira e poz-se a remexer em tudo. Enfiou a cabecinha dentro do vidro de sal e provou.
— Hum! Estou conhecendo este gosto, disse.
— Isso é farinha lá da sua terra; vem do mar, explicou a preta.
Provou depois uma pitadinha de assucar, achando-o tão bom que pediu para levar um pacote.
— Não vale a pena, disse a preta. Essa farinha é damnada para derreter n'agua.
Quando destampou o vidro de pimenta do reino em pó, tia Nastacia a advertiu:
— Cuidado! Isso arde muito nos olhos.
Antes não avisasse! Miss Sardine assustou-se, escorregou e cahiu de ponta cabeça dentro do vidro. Aquillo foi um pererecar e berrar de metter dó!
— Acuda! Estou céga...
A negra, afflicta, tirou-a de dentro do vidro e lavou-a na bica d'agua, dizendo:
— Bem feito! Quem manda ser tão reinadeira? Eu logo vi que ia acontecer alguma...
Miss Sardine não a ouvia, continuando a gritar e espernear.
— Acuda! Está pegando fogo nos meus olhos! Estou céga, não enxergo nada!...
— Isso passa, consolou a preta. Tenha um pouco de paciencia, menina. Muito peor seria se tivesse cahido dentro da frigideira de gordura quente.