V — VALENTIAS
Pedrinho havia sahido a passeio com o capitão dos couraceiros, vindos para a guarda do principe. Esses valentes soldados tiveram ordem de ficar fóra da casa, no terreiro, para que não assustassem tia Nastacia.
Pedrinho fez logo boa camaradagem com o capitão, que era um grande contador de proezas.
Contou duma terrivel lucta entre dois espadartes e duas baleias, que assistiu de pertinho. Sua valentia consistiu nisso — assistir de pertinho. Contou depois suas proprias façanhas, luctas com as lagostas, ataque a um filhote de peixe-espada.
Pedrinho tinha paixão por historias de caçadas, guerras, luctas de boxe — aventuras de terra e mar, como dizia dona Benta. Ouvia com interesse as historias do couraceiro e contava outras. Contou historias de onças, tigres de Bengala, leões do Uganda, jacarés do Amazonas.
— E qual é o bicho da terra que acha mais perigoso? perguntou o couraceiro, que ignorava completamente tudo que não se referia ao mar. Dizem que é o leão.
— E' e não é, respondeu Pedrinho para mostrar que entendia do assumpto. E' porque é, e não é porque com uma boa bala na cabeça qualquer caçador dá cabo dum leão. Para mim o bicho mais perigoso é uma tal vespa, que quando morde incha o lugar e arde que nem fogo.
O couraceiro, que não fazia a menor idéa do que fosse uma vespa, indagou:
— Mas com uma boa bala na cabeça qualquer caçador não dá cabo duma vespa?
— Se acertar, sim, respondeu o menino. Mas ainda está para existir um caçador que acerte uma bala em cabeça de vespa.
O couraceiro arregalou os olhos.