Página:As Reinações de Narizinho.pdf/145

Wikisource, a biblioteca livre
MONTEIRO LOBATO
137

mais importante aqui do sitio — depois de vóvó e tia Nastacia. Muito bondosa, incapaz de fazer mal a um mosquito.

— Mas como então devorou o pae, a mãe e todos os parentes do senhor visconde de Sabugosa?

— E' que elles eram sabugos e sendo sabugo a mocha não perdoa mesmo. Agarra e vae mascando. Mas para gente como nós, gente de carne, ella não faz nada. Vacca não come carne, sabe? Nem minhoca! Pedrinho já fez a experiencia. Poz-lhe uma rosada minhoca no cocho. Sabe o que ella fez? Virou a cara de lado e cuspiu de nojo.

O principe lá no intimo achou que devia ser uma creatura de muito mau gosto. Comer sabugo e ter nojo de minhoca era para elle a coisa mais absurda do mundo.

Nisto chegou Emilia.

— Que demora! disse Narizinho. Estamos aqui á sua espera ha um seculo. Que esteve fazendo?

— Ajudando dona Aranha a remendar suas meias, sabe? Oh, como dona Aranha remenda bem! Serze com a maior perfeição. Se eu fosse você não deixava dona Aranha voltar para o reino.

E dirigindo-se ao principe:

— Porque não dá dona Aranha para Narizinho? Narizinho, apezar de ser princeza, anda sempre de meias furadas por falta duma boa aranha aqui no sitio.

— Começam as inconveniencias! advertiu a menina fazendo carranca. Anda com meias furadas o seu nariz. Vamos visitar a vacca mocha que é o melhor.

Foram em direcção da cocheira. Assim que o principe deu com a vacca, estacou, de olhinhos muito arregalados. Nunca suppoz que houvesse um bicho tão grande e tão fóra de proposito.

— Pois é esta a mocha, principe, foi dizendo a menina. Veja que respeitavel senhora é, que pello macio, que pontudos chifres.