nenhuma e nascido com muito maus instinctos. Se fosse um gato sério e decente, eu teria muito gosto em o declarar aqui, mas não era. Era o que se chama — um gato ladrão.
E porque era um gato ladrão, ninguem queria saber delle. Na casa onde nasceu logo descobriram a sua má indole e o tocaram para a rua com uma boa sóva.
O gato sahiu correndo e foi morar numa casa bem longe da primeira, dizendo lá que o seu dono tinha morrido e que elle era o melhor caçador de ratos do mundo. Todos acreditaram nas palavras do mentiroso e o deixaram ficar.
Mas era tão ordinario esse gato, que em vez de se corrigir e viver vida nova, continuou com maroteiras. Na primeira noite que dormiu nessa casa foi á cozinha e roubou um pedaço de carne que a cozinheira havia guardado para o dia seguinte. Roubou e ficou quietinho, deixando que a cozinheira puzesse a culpa numa pobre negrinha e a castigasse com vara de marmello.
— Ah, eu lá! exclamou Pedrinho. Ferrava-lhe uma pelotada de bodoque, que elle havia de ver estrellas...
— Por fim, continuou o visconde, tambem nessa casa descobriram-lhe as patifarias e o puzeram no olho da rua.
Elle fugiu e resolveu mudar-se para um sitio onde houvesse muitos pintos. Achou o sitio que precisava e ficou morando lá. Mas o dono observou que os pintos estavam diminuindo, um, dois e até tres por dia, e falou á mulher que ia arranjar um cachorro policial para tomar conta do gallinheiro durante a noite.
O gato ladrão percebeu a conversa e fugiu. Andou, andou, andou até que encontrou outro sitio onde moravam duas velhas e dois meninos, um do sexo masculino e outro do sexo feminino.
— Que coincidencia ! exclamou Narizinho. Parece o sitio de vóvó...
— Escolheu esse sitio, continuou o gato, e foi entrando por elle a dentro com a maior semcerimonia deste mundo,